2007/05/07

A Semana que ainda não passou

Lino, o Cómico

Há quem me garanta que a piada de Lino deixa antever um recuo na OTA, um recuo que está a ser alimentado por gente ligada a Jorge Coelho, exigindo a saída de Lino a curto prazo, sendo que este não estando pelos ajustes acaba por afirmar a sua independência face a Sócrates arreganhado a tacha a uma plateia inteira. Vale o que vale e a ver vamos.


A crise da CML


Ao fim de duas semanas muito animadas, já podemos olhar com um mínimo de distanciamento, ainda que com muita cautela, para os últimos desenvolvimentos na CML.

Numa situação difícil, onde claramente Carmona Rodrigues deixou bem clara a sua incapacidade de gerir crises, a violação do segredo de justiça que se verificou na véspera de um debate mensal que se constituía de importância vital para o PM e o líder da oposição, veio colocar um ponto final nesta questão.

É preciso perceber o porquê de tal fuga, que fins teve e que objectivos se queriam atingir. O facto foi praticamente ignorado por todos os órgãos de comunicação social, entretidos com o “regresso” do Dr. Paulo Portas. Era bom saber, quem, como e porquê se deu esta fuga.

A partir deste momento, Marques Mendes, visivelmente enervado, tinha três hipóteses para resolver esta situação: Deixar tudo como estava, substituir Carmona por Marina Ferreira ou promover eleições intercalares. Só esta última lhe garantia reconhecimento. Assim o fez e bem.
Nesse espaço de 48 horas, sucederam-se alguns episódios que já adivinhavam a solução que iria ser dada ao problema. As repetidas notícias que saíram sobre a “fuga para a frente” de Carmona para uma exposição de motorizadas, tentativas de Mendes em falar com ele, telefones desligados, ajudaram a preparar o terreno para uma decisão que acentuava a imagem de seriedade e firmeza de Mendes nestas situações, em oposição a uma inexplicável fuga de Carmona.

Mais do que eventuais erros de entendimento de Carmona numa alegada conversa com Mendes, foi a ideia que este o estava a “queimar” que o deve ter levado ao acto de desespero de não se demitir de imediato.

Acto que em si encerra pouco mais significados que esse, um ajuste de contas imediato. Uma espécie de aviso a Mendes que a sair só faria com a melhor imagem possível. Se no entanto, recordarmos outros incidentes do género, com Fontão e Gabriela seara, já havia notícias de tentativas de Mendes em acabar com esta situação, sempre com a oposição da convicção de Carmona que havia ainda espaço de manobra. Não havia.

O resto é conhecido, um discurso muito bom de Carmona, contra o sistema partidário, contra todos, colheu algumas simpatias, mas perdeu algum do seu brilho com a resposta imediata de Mendes num sempre difícil frente a frente com Judite de Sousa. Ainda pior quando eram postas a circular notícias de tentativas de aliciamento de substitutos dos vereadores para se juntarem a ele, e-mails a convocarem manifestações de apoio que se numa primeira tentativa tiveram sucesso, no domingo foi o que se viu.

O que resta?

Muita coisa ainda, daí a cautela nesta análise, muita mesmo.

Quem serão os candidatos? Pondo de parte, PCP, BE e mesmo o PP, temos a possibilidade de Carmona avançar sozinho, se bem que a ausência de apoios vote a iniciativa ao insucesso, os vários nomes do PSD e do PS que esperam a clarificação de que tipo de eleições estamos a falar, intercalares ou antecipadas, o que condicionará mais o PSD que o PS. Neste último, a dança de nomes tem mais razões para além desta.

O nome de Seguro é pouco simpático a Sócrates, João Soares poderá arriscar uma quarta derrota do PS, pelo que será interessante ver como os socialistas vão resolver o problema em mãos.
Note-se que o avanço do nome de António Costa não me parece ter outro objectivo que o de dizer eloquentemente que os que apoiam Sócrates sabem bem quais as ambições de Costa e que não lhe perdoam o silêncio estratégico a que este se votou na questão da licenciatura.


Sarkô e os avisos à navegação


A vitória de Sarkô, o ar cabisbaixo de Paulo Dentinho, os avisos fúnebres de distúrbios nos arredores de Paris, que confirmam como a extrema-esquerda vive mal com a democracia e não hesita em usar da ameaça da violência urbana para condicionar votos, constituem mais um testemunho de como as esquerda não se reinventou, continua agarrada aos velhos clichés e discursos planfetários. Depois da terceira via de Blair, da previsível vitória de Cameron, a vitória deste filho de emigrantes, constitui um sério aviso à navegação para quem ainda não sacudiu as memórias de uma Europa anterior à queda do Muro de Berlim.


O Jardim da Madeira

O mesmo se pode dizer da esquerda portuguesa face aos resultados de ontem na Madeira. Jardim até se deu ao luxo de encenar uma birra desnecessária com um dos homens mais bem vistos na ilha, para garantir uma maior dispersão de votos na oposição e reduzir o PS a uma representação irrisória.

Vitalino Canas, que deveria entrar para a história como um dos porta-vozes menos capazes do PS, bem tentou acentuar a futilidade do acto mas já vem tarde. A posição do Governo foi vergonhosa, na ânsia de derrotarem Jardim, numa espécie de novela de mau gosto onde Vitalino por pouco não dizia com todas as letras “pois, pois, sempre quero ver como é que ele se aguenta sem dinheiro?!”, com um esforço e veríamos o mesmo homenzito a pedir que lhe cortassem um membro qualquer, “pois, pois, agora sem bracinhos?!!”, “e sem perninhas!??”… enfim, uma tristeza, a que o povo da Madeira respondeu democraticamente com um resultado que nem é bem uma vitória, é um esmagamento total.

Jardim, ajuda à matemática do PSD de Mendes que já venceu 3 vezes um Governo de maioria absoluta, contra um conjunto de opositores internos que contam entre variadas cabeças pensantes, vultos sem a menor capacidade de reciocinio como Menezes (uma espécie de cata-vento humano), Lopes da Costa, Sanatana Lopes e Henrique Freitas, mais um mini grupo de satélites que pouco fazem que papagear disparates. Razão têm aqueles que não sendo Mendistas, nele vêm um grande sentido estratégico e uma enorme coragem.

A ideia que o governo não vai alterar a lei das finanças regionais é discutível, há muitas maneiras de compensar a perda de fundos, é esperar para ver como é que Sócrates vai reagir.

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