2006/05/26

Sobre bolas e outros elementos esféricos

O Magnifico Professor Fernando Santos.

Ele é novo treinador na LUZ, coisa que deixou meio Portugal estupefacto e deu razão àquele senhor que é presidente do Benfica – o treinador estava na minha cabeça – acrescento mesmo, que estava apenas na cabeça dele. Fernando Santos é uma espécie de treinador, espécie e não género, que é capaz de coisas extraordinárias, no sentido que fogem da normalidade e não de serem boas ou, neste caso, compreendidas.

Um dos piores comentadores desportivos, cuja vantagem sobre todos os outros (quase todos péssimos) é nunca lhe termos posto a vista em cima, de seu nome maradona, faz (entre outras coisas) uma análise a este propósito “Já sonho até com a fatídica imagem de ver o Engenheiro a levantar-se do banco de braços abertos ao mesmo tempo que encolhe os ombros, como que não compreendendo por que é que as pessoas estão chateadas por o Vizela estar a dar dois secos na Luz ao Benfica em jogo a contar para uma eliminatória qualquer da Taça de Portugal. Sim, quando ele se levanta do banco, chega à linha lateral e encolhe os ombros e abre os braços, mimetizando um grande ponto de interrogação, não é para questionar o que se passa em campo ou as acções dos jogadores por si hipoteticamente treinados, mas para pôr em causa o comportamento da plateia. Vou tentar explicar.”.

E ele explica, com uma desgraçada chamada a esse vulto de nome Artur Jorge, um homem que não sendo bonito, deu um novo significado à frase “fazer coisas bonitas” e quase me reconciliou com o incompreendido mau génio de Sá Pinto.

Passo eu agora a explicar, já que ninguém o fez.

Não interessa para nada o que pensa Fernando Santos, se quer fazê-lo ou não sabe se o faz. São questões laterais e não atingem o âmago da questão.

Fernando Santos, é um apaixonado pela circulação de bola, aqui muita atenção, falo de circulação e não das mariquices que têm dominado o meu Sporting nos últimos tempos. Falo, isto sim, de movimentos circulares da bola e como Fernando Santos não se cansará de gesticular aos seus jogadores.

Os treinos são sempre feitos com base nessa procura incessante e futebolisticamente revolucionária do significado profundo e ontológico de se jogar com uma bola e não com outro objecto qualquer. Fará correr à volta de uns pinos que o próprio lançará – com um gesto de enorme elegância – para o relvado, os seus alunos. Porque o que se trata aqui de uma aula e não de um simples treino.

Essa procura será transportada para o campo, para os jogos, para as massas ululantes e demasiado ocupadas com minudências, como o resultado numérico, para entenderem que nunca se perderá nenhuma destas lições mesmo que se percam todos os jogos. Calmamente, Fernando Santos fará gestos circulares para os jogadores do Benfica, estenderá o seu braço e com o dedo virado para o relvado, desenhará um perfeito circulo, uma analogia da perfeição divina da criação e que em última análise só está realmente presente no futebol porque está lá uma bola. Não soubesse ele o que é o Pi.

Esta será a grande lição de Fernando Santos, se por obra e graça de um milagre, os jogadores do Benfica fizerem o que lhes for então pedido, os afortunados adeptos de futebol poderão assistir à perfeição resultante de 11 jogadores a correrem num círculo nas suas posições, com a bola atravessando o rectângulo verde, vários universos num só que com eles não se identifica – o rectângulo - e a presença de Deus em transito entre esses universos pessoais. Perante a o espanto da equipa contrária que só aí compreenderá o que lá anda a fazer.

Um "poema" que nem o esforçado Artur Jorge escreveria nos seus melhores dias.

Espero com algum cepticismo, porque Portugal nunca percebeu o que lhe é pedido em nome da humanidade e porque o Benfica têm portugueses a mais.

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