2007/03/27

Disciplinar

Aumento da violência nas escolas reflecte crise de autoridade familiar

Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência
defenderam hoje que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma
crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor
disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.
Os participantes no encontro “Família e Escola: um espaço de convivência”,
dedicado a analisar a importância da família como agente educativo,
consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os
menores recaia nas escolas.

“As crianças não encontram em casa a figura de autoridade”, que é um
elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando
Savater.

“As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas
crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa”, sublinhou.

Para Savater, os pais continuam “a não querer assumir qualquer autoridade”,
preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos “seja alegre” e sem
conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os
professores.

No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador,
“são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os
filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os”, acusa.

“O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de
protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no
seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar”, sublinha.

Há professores que são “vítimas nas mãos dos alunos”.

Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que “ao pagar uma escola”
deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de
muitos professores que estão “psicologicamente esgotados” e que se
transformam “em autênticas vítimas nas mãos dos alunos”.

A liberdade, afirma, “exige uma componente de disciplina” que obriga a que
os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias
e da sociedade.

“A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara”, afirma,
recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola
e a importância que é receber uma educação, “uma oportunidade e um
privilégio”.

“Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a
disciplina”, frisa Fernando Savater.

Em conversa com jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber
que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que
antes; o problema é que “têm menos respeito pela autoridade dos mais
velhos”.

“Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para
os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia”,
afirmou.

Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em
vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que “mais
vale dar uma palmada, no momento certo” do que permitir as situações que
depois se criam.

Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios
e o alargamento dos deveres.

Nota de rodapé: agradecimento ao colega LR por ter enviado este texto e permitido este momento de reflexão

Via JL

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